quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Aprendizagens nos primeiros anos: Competências básicas

Hoje escrevo apenas para os pais da sala B que me perguntaram qual o livro que deveriam comprar para os meninos de 5 anos. E como "santos da casa não fazem milagres" e não é fácil explicar rapidamente aos pais as razões da minha opção num primeiro encontro, fui buscar as palavras de Teresa Vasconcelos,  talvez a pessoa que mais influenciou o que hoje é a rede de educação pré-escolar em Portugal, excelente professora e investigadora, com quem tenho aprendido imenso nas conversas mais e menos formais.


"Durante muitos anos, pensava-se que uma inserção positiva na escolaridade básica se fazia através de processos directos de indução, nomeadamente usando fichas de iniciação à escrita e leitura ou exercícios gráficos em linhas ou papel quadriculado. Até aos anos 80, a investigação afirmava que os factores indicativos de uma inserção positiva no 1º Ciclo se prendiam com indicadores de sucesso escolar nas aprendizagens formais. Estudos mais recentes, desenvolvidos nos últimos vinte anos, apontam para um número muito mais amplo de competências indicativas de uma inserção positiva na escolaridade obrigatória à cabeça das quais se encontra a capacidade de aprender a aprender (Griebel e Niesel, 2003).
Em seguida, estão as competências sociais de cooperação, isto é, a capacidade de a criança se inserir num grupo de pares e de cooperar com eles no desenvolvimento de tarefas comuns (Griebel e Niesel, 2003). Para atingir este desempenho as crianças devem demonstrar ser capazes de fazer amigos e de serem aceites no grupo de colegas. Desde o final dos anos 80 que se desenvolvem estudos no âmbito da psicologia social que indicam que as crianças não-aceites entre os seus pares desenvolvem dificuldades nas aprendizagens formais, podendo ter insucesso educativo (Ladd, 1990, Asher and Coie, 1990). Entende-se, portanto, quão crucial se torna, durante os anos pré-escolares, uma intervenção precoce de modo a diminuir efeitos futuros das dificuldades de inserção social das crianças pequenas (Ktaz e Mclellan, 1996).
A autoconfiança é também uma competência decisiva na integração escolar. Uma criança com baixa auto-estima dificilmente se interessa pelos processos de aprendizagem mais elaborados que lhe vão ser exigidos. Por outro lado, a auto-estima está directamente correlacionada com a capacidade de se afirmar num grupo de pares. Criar situações para que a criança ganhe autoconfiança, se descubra a si própria como capaz de exercer o seu poder sobre as coisas e os objectos e, mesmo, as situações, de modo a modificá-los, é uma forma de intervir precocemente e de ajudar as crianças que, eventualmente, revelem maiores dificuldades.
A capacidade de autocontrolo é uma competência básica de inserção no 1º Ciclo. Quer nas suas interacções sociais, quer nos processos de gestão das actividades em sala de aula, a criança precisa de capacidade de domínio pessoal, de concentração, de fazer face à frustração.  A aquisição de hábitos de trabalho faz-se predominantemente nestas idades e a criatividade só pode emergir com base numa atitude de profunda disciplina interior e, mesmo, exterior. Decorrente desta competência está a capacidade de resiliência (Wustmann, 2003), isto é, a capacidade de fazer face à frustração ou, mesmo, à privação, à mudança, de forma dinâmica e positiva. A palavra resiliência é utilizada para descrever um conjunto de qualidades que apoiam a adaptação e a capacidade de fazer face à mudança, mesmo em circunstâncias difíceis (Bernard, 1995). A capacidade de resiliência leva a criança a ser forte, optimista, com uma dinâmica criativa face às adversidades, incorporando-as positivamente no seu desenvolvimento." (Teresa Vasconcelos)


5 comentários:

  1. Ofélia...
    Com um breve texto explicas tudo. Muito bom, muito bom mesmo. Vou partilhar.
    Desejo-vos um ano repleto de descobertas e muita alegria. Obrigada pelas partilhas de qualidade.

    ResponderEliminar
  2. Parabéns pelo seu blogue. Passei ocasionalmente por aqui e gostei especialmente deste artigo. É um assunto muito debatido, mesmo entre colegas da mesma área. É importante que as competências básicas estejam bem definidas para que a criança faça uma boa inserção na escolaridade obrigatória. Obrigada pela partilha.

    ResponderEliminar